PM NÃO ESTAVA BÊBADO! MAS TRABALHANDO SOB EFEITO DE REMÉDIOS PARA NÃO SER PRESO

20/03/2016 17:58

 


O policial militar XXXXXX de Ibirá-SP, estava de serviço quando foi filmado por pessoas comuns da sociedade que imaginavam que ele estava bêbado. As pessoas estavam indignadas e até certo ponto, com razão, uma vez que sua coordenação psicomotora estava comprometida e sua fala denotava CERTO torpor, possivelmente causado por algum tipo de embriaguez. 
 
O policial foi humilhado, agredido e ofendido moralmente por um cidadão mais exaltado que por diversas vezes se dirigiu a ele de forma acintosa e ofensiva, CHEGANDO A DESARMA-LO, tudo observado por seu parceiro de viatura, que diante do clamor popular, gerenciou a crise que poderia ter tido um fim trágico.
 
Retiraram a chave da viatura e ameaçaram jogar o vídeo nas redes sociais, como de fato fizeram, a fim de ridicularizar o policial, sem saberem que ele não estava bêbado! O policial faz tratamento psiquiátrico particular em razão de complicações psiquiátricas em decorrência do serviço policial, mas como qualquer policial militar, teve contestados seus laudos psiquiátricos pelos médicos da PM, que jogam no lixo os diplomas de todos os médicos que não são da PM. O POLICIAL É OBRIGADO A TRABALHAR, MESMO SEM CONDIÇÕES, PORQUE SENÃO ELE É PRESO EM FLAGRANTE DELITO! 
 
Assim como com o soldado XXXX, há centenas, talvez milhares de policiais militares no estado de São Paulo sob tratamento psicológico ou psiquiátrico, todos em razão de estresse no serviço policial, entretanto a instituição Polícia Militar ignora a gravidade dessa situação e seus profissionais de saúde se preocupam muito mais com a imagem de seus comandantes do que com a saúde de seus colegas de trabalho. 
 

Esse é um veneno mortal do militarismo. 

A obrigação de psicólogo de obedecer ao seu comandante e colocar para trabalhar na linha de frente, pessoas sem a menor condição psicofísica para tal.

 
 
A Polícia Militar não fornece diplomas de psicologia! O psicólogo da PM não recebe um centavo a mais por isso, além de ter feito faculdade fora da instituição e com seus próprios recursos, portanto é inaceitável que, a despeito de seu juramento e de sua subordinação ao CRP (Conselho Regional de Psicologia), que é quem regulamenta sua profissão, aja de acordo com ordens absurdas da caserna e coloque disponível quem, por determinação de outro profissional de saúde, encontra-se indisponível para o serviço. 
 
É uma irresponsabilidade, além de uma afronta ao seu órgão de classe! Nesta situação específica, foi chamado o tenente XXXXXX no local para tomar as providências. O tenente conduziu o soldado XXXX até o pronto socorro para fazer exames de embriaguez, onde se constatou que ele não estava bêbado mas sim que tinha ingerido remédio receitado regularmente por seu médico, para inclusive tratar seu problema, ignorado pela PM. 
 
Constatou-se que o soldado XXXX estava sob efeito de ansiolítico, o qual teve efeito colateral, alterando seu metabolismo e causando a impressão de que estava embriagado. Da mesma forma que a medicação causou essa reação adversa, poderia ter causado uma euforia descontrolada, ou uma ira que levasse o policial a sacar sua arma e atirar contra outras pessoas, como um caso muito recente no estado do Amapá, onde um policial baleou seu parceiro com 11 tiros após um surto psicótico. 
 

Tivemos em Piracicaba no ano passado várias ocorrências nesse sentido, sendo que um de nossos associados, sob tratamento psiquiátrico há oito anos, afastado judicialmente, vez que a PM recusava seus atestados médicos, e por isso teve que recorrer ao poder judiciário, teve sua casa invadida por uma capitã médica da PM, sem especialização na área, contestando laudo médico e ordem judicial e tentou sequestrar o policial à força, com apoio de várias guarnições de viaturas do patrulhamento e do corpo de bombeiros. Só não conseguiu seu intento porque fui até o local e chamei a imprensa, tendo inclusive dado voz de prisão à oficial da PM por desobediência à ordem judicial e violação de domicílio que, no caso do policial militar, caracteriza crime de abuso de autoridade.

Evidentemente ela não foi presa, nem eu, mas no final das contas, o policial foi conduzido ao hospital e voltou pra casa. 

 
A instituição Polícia Militar do Estado de São Paulo se recusa a informar aos veículos de pesquisas o número de policiais sob tratamento psiquiátrico, descumprindo preceito legal insculpido na lei de acesso à informação, e age de modo arbitrário contra quem apresenta sintomas de estresse e fadiga, bem como alterações emocionais, determinando a seus psicólogos que ignorem tais sintomas. Se observarmos as dezenas de suicídios de policiais militares somente no ano de 2015, veremos que TODOS eles passaram por atendimento psicológico em suas unidades e nenhum deles teve o atendimento necessário para resolver seu problema, sendo forçados a voltarem ao trabalho, não tendo suportado a continuidade de tal situação e atentado contra sua própria vida. Este policial está sendo ridicularizado por estar embriagado quando não estava. 
 
Se O POLICIAL tivesse dado um tiro na própria cabeça a sociedade nunca saberia o motivo. O que os familiares de policiais militares nessa situação devem fazer? 
 
Devem buscar a justiça. Denunciar o abuso contra seus entes queridos que, para entrarem para a PM, foram submetidos aos mais rigorosos testes de aptidão física e psicológica. - Devem ainda, denunciar os psicólogos que os atenderam na PM junto ao CRP - Conselho Regional de Psicologia, porque estão descumprindo o compromisso prestado junto àquele órgão regulador. A PMESP se diz um órgão compromissado com a defesa da vida, da integridade física e da dignidade da pessoa humana. 
 
Não pode tratar seu maior patrimônio dessa maneira. De acordo com pesquisa realizada pela APPMARESP, há no estado de São Paulo, cerca de 4.300 policiais militares sob tratamento psicológico, quer nos núcleos específicos da própria instituição, quer através de profissionais particulares, e ainda, outros 2.200 sob observação entre fases de tratamento. São mais de 5.000 profissionais cuja observação criteriosa deveria impedir que trabalhassem na atividade fim, lidando com as pessoas nas ruas, sob risco de causar mal a si mesmos ou a terceiros, tudo isso em decorrência das pressões que sofrem no dia a dia. São mais de 5.000 profissionais de segurança pública, armados e colocados nas ruas para lidar com a minha e a sua família. Sem contar que o tratamento recebido nos quartéis é rígido e alienante, e o profissional muitas vezes sai às ruas e é violento com o público, sem que as pessoas saibam de suas condições emocionais.
 
 

A APPMARESP buscará junto ao CRP, informações sobre as avaliações dos profissionais de psicologia da PMESP, sobre como e quando são feitas e sobre o tipo de controle que exercem de tal atividade. Policial, não perca sua vida por amor a um uniforme. Ser policial é muito mais que isso! 

 
Marco Ferreira - APPMARESP