O secretário de Segurança Pública do governo de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, confirmou hoje (30) que partiu da favela Paraisópolis, na zona sul da capital, a ordem para que seis policiais militares fossem assassinados no Estado. Ele atribui as ordens a Francisco Antonio Cesário, conhecido como Piauí, preso na cidade de Itajaí (SC) há cerca de um mês, pela Polícia Federal.
De acordo com o secretário, essas ordens foram responsáveis "pelas primeiras mortes" da atual onda de violência, mas os motivos ainda estão sendo investigados. Os assassinatos teriam ocorrido em maio. Na época, o acusado vivia na favela de Paraisópolis, que, desde ontem, é alvo de uma grande operação policial, com a presença de cerca de 600 homens.
Enquanto isso, a cidade continua a enfrentar grande índice de violência. Entre a noite de sexta-feira (26) e a madrugada de ontem, ocorreram, pelo menos, 22 mortes na região metropolitana. Somente na capital, foram nove assassinatos, de acordo com a Polícia Civil.
Número de mortos
Balanço divulgado na última quinta-feira (25) pela Secretaria de Segurança Pública revelou crescimento de 96% no número de homicídios na cidade de São Paulo em setembro, em comparação ao mesmo período do ano passado. Em setembro, a capital registrou 135 casos de homicídios, contra 69 casos no mesmo mês de 2011. Desde o começo do ano até a última quinta-feira (25), 85 policiais foram mortos em todo o estado.
Apesar das mortes, o secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, negou, ontem, que a ação na favela seja uma resposta aos assassinatos. “Não é efetivamente uma resposta. É a necessidade de uma ação cada vez maior contra o tráfico. A quantidade de entorpecentes que entra é muito grande e precisamos de uma ação mais enérgica”, esclareceu.
Especialistas aprovam ocupação de Paraisópolis
Paulo Storani, antropólogo, pesquisador da Universidade Cândido Mendes e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio, diz que a ocupação de Paraisópolis representa uma mudança na estratégia de segurança das autoridades paulistas. "Em vez de a polícia ficar nas ruas esperando os ataques acontecerem para reagir, optou-se acertadamente por ocupar o espaço de onde partem as ordens para o cometimento destes crimes. A presença da polícia na favela vai permitir que esses traficantes sejam identificados e presos. Para termos certeza de que a estratégia deu certo, com o fim dos ataques, temos que esperar para ver qual será a resposta dos traficantes. Ou os atentados vão cessar ou então passarão a ser coordenados de outras favelas", disse Storani à Agência Estado.
Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais, Cláudio Beato Filho também apoia a ocupação de Paraisópolis pelas forças policiais. "Ao contrário dos traficantes do Complexo do Alemão, no Rio, que detinham total controle do território, os bandidos de Paraisópolis controlam a favela, mas a polícia sempre conseguiu entrar lá mas não permanecia. O que está se fazendo agora é o que deveria ser feito no dia a dia", afirmou Beato, que criticou a falta de transparência das autoridades paulistas sobre as causas e efeitos da recente onda de violência na capital. "Não sei qual é o tamanho real do problema em São Paulo. No Rio, a Secretaria de Segurança diz claramente o que vai ser feito".
Comandante da PM do Rio na época da ocupação dos Complexos da Penha e do Alemão pelas forças de segurança, em novembro de 2010, o coronel Mário Sérgio Duarte defende que a partir de agora a presença da PM em Paraisópolis seja permanente. "No Rio, a política de segurança em relação às favelas era invasiva. Privilegiava-se a prisão de marginais e a apreensão de drogas e dos seus arsenais de guerra. Mas isso não desconstruía a 'ideologia do tráfico', a zona de conforto, de exibição e de prazer dos bandidos", explica Duarte.
UPPs
Segundo o oficial, a partir das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), optou-se pela ocupação permanente destes locais, o que significa, na prática, o resgate desses territórios para as forças do Estado. "Aí sim, com a área sob controle da polícia, inicia-se a retirada de suas armas e a quebra de seus braços econômicos, como a distribuição irregular de sinal de TV a cabo, ágio no botijão de gás, taxas sobre vendas de casas nas favelas, etc. A polícia de São Paulo está num bom caminho se ocupar essas comunidades e desconstruir a ideologia da facção (PCC)".
Novas operações
O secretário prometeu que outras operações do tipo vão ocorrer. “Nós vamos fazer operações parecidas em áreas que identificarmos como de grande índice de tráfico de entorpecentes e de homicídios”, disse.
Para o secretário, as mortes de policiais nas últimas semanas estão sendo motivadas por razões pontuais. “As pessoas presas por policiais militares acabam sendo soltas, em seguida, e vão à forra. O momento é oportuno”, alegou. Ele disse ainda que os ataques têm ocorrido também pela disputa dos pontos de distribuição, em guerra de quadrilhas. “Essa somatória de motivos leva a essa onda de violência, que nós vamos reverter”, disse.
*Com informação da Agência Brasil e da Agência Estado